As visualizações criativas podem ser um importante recurso para nossas conquistas, isso porque a mente não diferencia um fato real de um fato apenas imaginado. Nos esportes, por exemplo, cada vez mais atletas fazem uso desse “poder da mente” para melhorar seu desempenho. O lendário Jack Nicklaus, melhor jogador de golfe de todos os tempos, revelou que ele fazia uso da técnica de visualização mental para ganhar as partidas.

Da mesma forma, também nós podemos praticá-la a fim de nos instalarmos em um estado emocional de paz, temperança e alegria, criando um lar aconchegante em nosso mundo interno, para onde podemos retornar sempre que precisarmos.

Vamos criar esse espaço juntos, agora, com essa meditação guiada. Para isso, nos inspiramos uma crônica profunda de Clarice Lispector, que pode nos ajudar a encontrar esse lugar em nós. Você pode usar as metáforas dela (como a do leão) ou deixar vir suas próprias metáforas.

Leia o texto para se inspirar também e, depois, a professora Eliane Dell’Omo vai guiar você no início dessa visualização.

“UMA IMAGEM DE PRAZER

Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma floresta, e na floresta vejo a clareira verde, meio escura, rodeada de alturas, e no meio desse bom escuro estão muitas borboletas, um leão amarelo sentado, e eu sentada no chão tricotando.

As horas passam como muitos anos, e os anos se passam realmente, as borboletas cheias de grandes asas e o leão amarelo com manchas – mas as manchas são apenas para que se veja que ele é amarelo, pelas manchas se vê como ele seria se não fosse amarelo. O bom dessa imagem é a penumbra, que não exige mais do que a capacidade de meus olhos e não ultrapassa minha visão. E ali estou eu, com borboleta, com leão. Minha clareira tem uns minérios, que são as cores.

Só existe uma ameaça: é saber com apreensão que fora dali estou perdida, porque nem sequer será floresta (a floresta eu conheço de antemão, por amor), será um campo vazio (e este eu conheço de antemão através do medo) – tão vazio que tanto me fará ir para um lado como para outro, um descampado tão sem tampa e sem cor de chão que nele eu nem sequer encontraria um bicho para mim. Ponho apreensão de lado, suspiro para me refazer e fico toda gostando de minha intimidade com o leão e as borboletas; nenhum de nós pensa, a gente só gosta.

Também eu não sou em preto e branco; sem que eu me veja, sei que para eles eu sou colorida, embora sem ultrapassar a capacidade de visão deles (nós não somos inquietantes). Sou com manchas azuis e verdes só para estas mostrarem que não sou azul nem verde – olha só o que eu não sou. A penumbra é de um verde escuro e úmido, eu sei que já disse isso mas repito por gosto de felicidade; quero a mesma coisa de novo e de novo. De modo que, como eu ia sentindo e dizendo, lá estamos. E estamos muito bem. Para falar a verdade, nunca estive tão bem. Por quê? Não quero saber por quê.

Cada um de nós está no seu lugar, eu me submeto bem ao meu lugar. Vou até repetir um pouco mais porque está ficando cada vez melhor: o leão amarelo e as borboletas caladas, eu sentada no chão tricotando, e nós assim cheios de gosto pela clareira verde. Nós somos contentes.”

LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Aperte o play para ser guiado pela professora Eliane.