Dos sete pecados capitais, a inveja é o menos admitido. Eu, sentir inveja? Imagine. O olho gordo é sempre o do outro.

Para a maioria das pessoas, é vergonhoso assumir que, assim como o resto da humanidade, ela também traz em sua psique ‒ para a psicanalista Melanie Klein, desde a separação do útero ‒ essa emoção tão primitiva e perturbadora. (Confira: por que sentimos inveja?)

Pudera. Não é fácil aceitar que podemos odiar alguém simplesmente porque ― ainda citando Klein― ele possui e desfruta de algo que nós gostaríamos de ter e desfrutar. Mais do que isso: como admitir que, para nossa paz e felicidade, muitas vezes gostaríamos de destruir o objeto de felicidade do outro?

Mas vamos lá! Aqui, neste espaço de tempo e texto, você pode, nós podemos, admitir que sentimos… inveja. Ufa! Ouvimos um suspiro aliviado aí? Ótimo! Somos humanos.

Sentindo na pele

Em uma definição mais simples, podemos entender a inveja como o estado de desejo por algo que o outro tem ou é, e que me falta. Quase sempre, esse estado é perceptível no corpo. Nós o convidamos para fazer um breve exercício que o deixará mais consciente de como a inveja atua em você:

Preparado?

  • Respire fundo e expire lentamente. Imagine alguém que, segundo você acredita, sempre consegue o que quer.  Amor, dinheiro, fama etc. É carismático, rouba todas as atenções, enfim, tem uma vida que, até no sofrimento, parece glamurosa.

E então? Como você se sente? Em quais partes do seu corpo essa imagem atua? Observe. Como está seu maxilar? E o estômago? (bateu um ódio aí? Transmute com a alquimia das emoções)

Fazendo algo bom da inveja

Agora que você entrou em contato com o aspecto sombrio de sua inveja, é hora de entrar em contato com o aspecto luminoso dela (veja, neste mito narrado por Mario Koziner, como o herói Hércules fez isso).

Em um trabalho de trabalho sistêmico, todas as emoções pertencem e têm uma função. Até a inveja. Excluí‐la seria perder uma grande oportunidade de promover grandes mudanças na própria vida.

Uma das funções mais importantes da inveja talvez seja a de fornecer energia para realizar um objetivo. Por exemplo:

  • Sentiu inveja do corpo de alguém? Que tal começar a cuidar de sua alimentação e fazer exercício físico?
  • O conhecimento do outro faz com que você se sinta diminuído? Que tal engrenar em uma leitura ou curso que lhe dê prazer e inspiração?
  • A inveja é do relacionamento amoroso de alguém? Que tal investigar os motivos mais profundos que o impedem de construir uma relação?

Para invejas agudas: gratidão

Se pudermos, de modo maduro, nos sentirmos gratos por nossa história tal como ela foi, desde os nossos antepassados, pelo que já somos e possuímos, teremos um poderoso antídoto nas mãos para transmutar nossa inveja. Experimente:

  • Faça uma lista de, ao menos, cinco coisas pelas quais você é mais grato em sua vida. Depois, tente expandir essa lista.

Lembre‐se de que as restrições podem ser potentes fomentadores de criatividade. “Sem limite, não há horizonte”, diz o professor e filósofo Mário Sérgio Cortella.

Se você tem limitações em sua vida que os outros não têm, aproveite‐as imediatamente para sair da zona de conforto. Quanto mais abraçamos nossas dificuldades, mais inovadoras podem ser as soluções que damos a elas. E, quem sabe, essas soluções podem trazer novos significados não só para você, mas também para as outras pessoas.

Ir além da família, ir para o mais

A maioria de nós é fiel ao destino da família porque teme perder o pertencimento. Seu eu for mais feliz no amor, se eu tiver mais dinheiro, se eu tiver mais sucesso do que meus pais, avós e bisavós, por exemplo, será que ainda serei aceito pela minha família?

O medo é inconsciente, claro, e as barreiras que “colocamos” em nosso caminho para impedir nosso progresso também.

Então, novamente, temos um único e poderoso antídoto: olhar respeitosamente para todos que vieram antes de nós em nosso sistema familiar e dizer com verdade e reverência:

Eu recebi muito de todos vocês, obrigado! Sou o que sou graças a vocês, com tudo que lhes custou. E agora eu lhes peço a benção e a permissão para fazer um pouco mais. De agora em diante, vou honrar todos vocês em minha felicidade. Vocês seguem comigo na minha alma.

 

Por Adriana Bernardino.