“A dor é o verdadeiro canal do parto para que uma separação se produza”.

(Mario Koziner)

O psicanalista vienense Igor Caruso, autor de “A separação dos amantes“, certa vez afirmou que uma ruptura amorosa é como testemunhar a própria morte. Afinal, assistimos ao nosso desaparecimento dentro do outro, levando junto os sonhos, a história que construímos e as que ainda sonhávamos escrever.

Embora seja inegável que os sonhos compartilhados em um relacionamento cheguem ao fim com a separação, a postura diante do outro e do que vivemos não precisa ser excludente.

Antes, o luto

Na maioria das vezes, a dor pela separação é tão intensa que passamos pelos mesmos estágios do luto quando perdemos um ente querido.

  1. Primeiro, negamos a realidade, não queremos acreditar que o relacionamento terminou.
  2. Depois, podemos sentir raiva, culpando um ao outro pelo fim.
  3. Em seguida, tentamos barganhar e prometemos mudanças desesperadas para recuperar o que tínhamos.
  4. Com o tempo, nos conscientizamos, com tristeza, da realidade: não há volta.
  5. Por fim, chegamos à aceitação, acreditando que podemos seguir em frente e construir uma nova vida.

Recomeço

Em minha experiência como psicoterapeuta e facilitador de constelações familiares, testemunhei que muitas pessoas interrompem esses estágios antes de alcançar a aceitação, o que dificulta significativamente a possibilidade de recomeçar um novo relacionamento.

Do mesmo modo, assisti a muitos recomeços felizes, casos em que a pessoa consegue adotar uma postura que respeita certas ordens que regem os relacionamentos (em meu curso de formação em constelações, estudamos profundamente como funcionam as “ordens do amor” nos relacionamentos).

Aqui, apresento a síntese de alguns pontos essenciais para uma separação saudável e também para vivermos mais plenamente futuros relacionamentos:

  1. Reconhecer que o parceiro faz parte de nosso sistema familiar, portanto não podemos excluí-lo de nossos corações. Podemos dizer uma frase interna como: “você sempre será meu primeiro(a) marido (esposa)” ou “você tem um lugar no meu coração como meu primeiro amor”.
  2. Assumir a responsabilidade por 50% daquilo que deu errado no relacionamento que terminou.
  3. Aprender com as lições que o relacionamento trouxe.
  4. Agradecer pelas experiências positivas do relacionamento e dar-lhes um lugar no coração.
  5. Permitir que o ex-parceiro tome tudo (amor, dedicação, aprendizado) o que demos durante o tempo em que estivemos juntos.
  6. Continuar a amar o ex-parceiro nos filhos de ambos, caso existam.
  7. Desejar, sinceramente, felicidade ao ex-parceiro em sua relação futura.

No início de um novo relacionamento, as ordens do amor também estão em jogo. Então, é muito importante:

  1. Reconhecer e aceitar nosso lugar entre os ex-parceiros de nosso atual relacionamento (somos o último a chegar).
  2. Cultivar uma atitude de reconhecimento e gratidão em relação aos parceiros anteriores de nosso atual relacionamento por terem aberto espaço para nossa união. Além de que somos o último a chegar, ele(a) veio a mim depois da experiência vivida com os(as) anteriores.
  3. Manter a discrição e evitar perguntas sobre os parceiros anteriores.
  4. Se houver filhos envolvidos, reconhecer que eles têm prioridade por sobre o atual relacionamento e dar tempo para que estejam juntos com ambos os pais.
  5. Evitar comparações e competições com os ex-parceiros.

Existem muitos exemplos reais de recomeços felizes, como os casos do próprio Bert Hellinger com sua segunda esposa, Sophie Hellinger; João Guimarães Rosa e Aracy de Carvalho; José Saramago e Pilar del Rio etc. Todos eles encontraram um grande amor depois do término de relacionamentos anteriores.  E foram felizes.

E você? Acredita que pode ser feliz novamente?

Confira no vídeo abaixo, como é possível passar por esse momento tão difícil de modo saudável.