Por Clara Koziner e Adriana Bernardino

Vai passar. É assim mesmo.

Você vai ouvir essa frase muitas vezes, de muitas pessoas, quando tentar explicar o espanto de ter-se tornado uma desconhecida para si mesma, talvez já na maternidade, depois de parir seu primeiro filho. Ou talvez tenha a sorte de encontrar outra mãe recém-desconhecida que também assuma a própria dor em vez de… – me pergunto se por medo de não ser aceita – reproduzir o discurso da maternidade-paraíso e não o da maternidade real.

Eu, sendo você anos depois, turbilhões depois, desesperos depois, tenho autoridade para dizer: vai passar, mas não para voltar ao que era. Aceite. Você também acabou de ser parida. E dói.

Eu não sei se dói porque renascemos, se dói porque achávamos que seria mais fácil – e subestimamos, muitas vezes, as dificuldades alheias. Só sei que dói, dói parir e se parir.

Fala-se muito sobre a dor do parto, mas pouco sobre a dor do pós-parto. É quase um tabu. É quase uma incomunicabilidade que nos deixa a sós em uma ilha deserta, com um bebê nos braços, sem manual, para o aprendizado do amor e da maternidade.

Aceitação, dor e sofrimento

Perdas e ganhos

É um turbilhão de hormônios, sim! Mas a dor vai além disso: fala da morte de uma mulher que você era. Que vê seu corpo, sua casa, sua vida virando de cabeça para baixo.

Quando você falar dessa dor, vai parecer (às vezes, até para si mesma) que está falando da falta de amor pelo nosso filho. Não! Jamais coloque isso à prova. Amamos, cuidamos e defendemos nosso filhote como leoas. Não o amor romantizado, claro, não o amor clichê, construído para o segundo domingo de maio. Mas o amor que é prazer e dor, confiança e medo, força e impotência.

O que estou tentando te contar é sobre essa perda mais profunda: a perda de um papel que você tinha no mundo e não tem mais (você vai redescobri-lo e ter orgulho de si mesma), da mudança abrupta em todos os sentidos (você vai reinventá-los e se surpreender), inclusive na forma de pensar, de enxergar o mundo e de enxergar o próximo (você será mais compassiva).

A mãe que tivemos

maternidade real

Ah! Mas sabe o que realmente vai mudar? A nossa maneira de enxergar a própria mãe. Com que peso você vai se lembrar de tantos julgamentos, mas não se perca aí, por favor. Está tudo bem. Você não sabia, e talvez nem ela sabia muito sobre a maternidade real antes de te parir. 

Você vai se dar conta de que aquelas coisas que nossa mãe não fez “da forma mais certa”, foi o mais certo para nós; que ela fez tentando acertar, do jeito que ela sabia, que ela podia, também guiada pela desconhecida que tinha acabado de se tornar.

+ Meditação: Tomar a Força da Mãe

Então, só o fato de ter nos gestado e parido já nos parecerá o bastante. Você vai concordar que
devemos muito a nossa mãe, e essa dívida ou gratidão se reacenderá a cada noite mal dormida, a cada insônia, pensando no melhor para a nossa cria, a cada questionamento – peito ou mamadeira? – que não faz parar a roda do mundo, mas o faz – sem que o mundo saiba – seguir em frente, como uma história contada nas entrelinhas, que ninguém vê, ninguém escuta, até se tornar mãe.


Conselho?

Não quero ser mais uma a dar conselhos, porque sei, melhor do que ninguém, o quanto isso te irrita. Mas escute esse: não tenha pressa para tudo isso acabar logo ou ser diferente do que é.

Não tenha medo do que será de você. Estou aqui para garantir que será o melhor e que eu não teria feito nada diferente do que você tem feito. Apenas teria mais calma, apesar da dor.

Você está levando à vida adiante. E, para isso, é preciso tempo e confiança. Ah! Peça um pouco mais de atenção para si mesma, você também precisa de colo e calor.

E você, imaginando-se daqui a alguns anos dentro dessa maternidade real, o que diria a si mesma?