Por Clara Koziner e Adriana Bernardino

Sempre que a rotina na relação amorosa me parece demasiadamente sem graça ou irritante tento me lembrar da palavras do psicanalista Contardo Calligaris: “Para romancear a vida, não é preciso encontrar destinos grandiosos. Basta enxergar o detalhe que sempre está presente num canto escuro da realidade cotidiana, ao alcance de uma ampliação fotográfica.”

Então me dou conta de que o problema pode não estar na realidade ou no outro, mas na tentativa de sonhar com um ideal de relacionamento em vez de descortinar e ampliar o essencial.

E o que é o essencial? Certamente, a resposta mudará de pessoa para pessoa. Mas, apesar das diferenças, talvez possamos encontrar nele algumas características em comum.

O riso, a leveza e o mantra

Rotina na relação amorosa

Começando do começo, podemos nos lembrar do que nos levou ao outro e do que nos mantêm com ele. Os motivos permanecem? Têm força? Afinal, é preciso haver uma vontade mútua de que a relação perdure. 

Um relacionamento é feito de pessoas diferentes, com universos diferentes. Para que ele aconteça em sua profundidade, com as reinvenções possíveis, é importante aceitarmos essas diferenças, nos enriquecermos com elas, em vez de excluir o que não nos é familiar.

Pode ajudar, também, conhecer os próprios limites. Um mantra essencial é: não consegui dar conta de tudo, mas dei o meu melhor, dei  conta daquilo que eu consegui ter dado. E meu parceiro também.

Em meio ao caos, a vontade é o que prevalece; então, que tal apostarmos mais na  leveza?

“Leveza no bom dia.
Leveza na gritaria das crianças.
Leveza na vida.
Leveza na vida a dois.”

Exemplos de amor verdadeiro

Há um documentário na Netflix – “Meu amor: seis histórias de amor verdadeiro” – que mostra um pouco do cotidiano de seis casais ao redor do mundo. Eles têm de singular o fato de seguirem se amando apesar das décadas, das dores, dos filhos, da vida. Qual o segredo? Não há “destinos grandiosos” nem histórias fabulosas.  Há a simplicidade das pequenas trocas cotidianas que retroalimentam o amor.

Vemos, numa das histórias, um velhinho, apoiado em sua bengala, retirando do varal a blusa de sua amada, cujo vento agita e leva – talvez até nós – histórias, memórias e sabedoria. Depois, enquanto ele dorme, a esposa dobra as roupas que eles usarão em uma viagem na qual ela verá o mar pela primeira vez. 

Depois de ver o mar, talvez ninguém permaneça o mesmo. Quem ela se tornará? Quem ele se tornará diante da reinvenção dela? Será que temos a necessária sensibilidade para acompanhar a reinvenção do outro?

Aprendemos, nessa série, que o amor duradouro pede olhar de descoberta, brandura, leveza, naturalidade; mais compreensão que julgamento, mais bom-humor que cobrança, mais parceria que competitividade. Assim, o próprio amor respira e nos ajuda a respirar melhor, a nos transformarmos a cada dia. Afinal, são nos detalhes da rotina na relação que ele se renova e se fortalece.