Boa parte do mundo não fazia ideia de quem era Vivian Jenna Wilson; muito menos de que ela era filha de Elon Musk, o homem mais rico do mundo. E a maioria de nós só descobriu que Vivian é filha de Musk porque ela não quer mais ser filha dele. Não parece contraditório?

Esse é um bom exemplo de como podem atuar as dinâmicas de negação ou de como “nos tornamos” aquilo que excluímos. Segundo a abordagem das constelações familiares, as consequências de uma exclusão são sempre problemáticas; em se tratando dos pais, então, os seus efeitos podem ser sentidos em todas as áreas de nossa vida.

O caso

Fruto do primeiro casamento de Elon Musk com a escritora Justine Wilson, Vivian Jenna Wilson é uma mulher trans que, recentemente, ao completar 18 anos, foi à justiça dos Estados Unidos para romper qualquer ligação com o pai, a começar pelo nome de nascimento: Xavier Musk.

A jovem deu duas justificativas para a decisão: “identidade de gênero e o fato de eu não viver ou desejar estar relacionada com meu pai biológico de qualquer forma”. Será que, de forma menos radical, também nós julgamos nossos pais por eles não terem sido aquilo que esperávamos?

Ideal versus realidade

Nossos pais são perfeitos apenas por serem nossos pais? Não. Eles são humanos, limitados; vão errar. Os pais deles eram perfeitos? Também não. Nós somos perfeitos? De jeito nenhum. Seremos perfeitos para nossos filhos? Eles dirão que não.

Os pais são perfeitos apenas no ato de dar a vida. Por isso, Bert Hellinger diz que quando vamos contra nossos pais, quando somos incapazes de reconhecer o que fizeram por nós e de agradecê-los, tudo em nós se mobiliza, inconscientemente, para “compensar” essa postura; em geral, repetindo os “erros” deles. No livro, “A cura” (ed. Atman), Hellinger afirma:

Somos os nossos pais. Mesmo após a morte deles, continuamos pertencendo à mesma comunidade de vidas que eles. (…) Os destinos que partilhamos com outras pessoas, especialmente quando nos tornamos o destino delas, e elas o nosso, vivenciamos, por um lado, como uma limitação e, por outro, como um ganho para a nossa saúde e para a nossa vida. Aqui, o fator decisivo é a intensidade de nossa dedicação a eles. Quanto mais profunda a nossa dedicação, mais benéfico é o efeito dessa comunidade de destinos sentido por nós em nossa vida.”

Então, talvez o caminho não seja polarizar entre quem tem razão ou não, nem desejar a perfeição, mas aceitar os limites, o que cada um pode dar e fazer com aquilo que tem e é. Quem sabe assim começamos a quebrar um ciclo transgeracional de julgamentos e acusações. Os principais beneficiados seremos nós mesmos.

Você aceita seu pai como ele é? Já conseguiu tomar a força dele? Veja nesse vídeo o quanto isso é importante para nossa vida.