Não vou mentir para você. O documentário “Camelos também choram” (dir. Byambasuren Davaa, Luigi Falorni), ganhador do Oscar de 2004, não é um filme fácil de ver, se comparado aos dramas hollywoodianos. O ritmo é lento, o idioma nos é estranho e as coisas levam tempo (ou o tempo da alma) para se resolver. Algo, assim, muito parecido com a experiência de ser mãe e de ser filho. Dói.

O enredo se passa no deserto de Góbi, na Mongólia, e retrata uma mamãe camela que, depois de ter sofrido muito no trabalho de parto, rejeita o filhote albino; portanto raro. O problema é que, se o bebê não mamar, ele morre. Para evitar o pior, os pastores viajam pelo interior da Mongólia em busca de músicos que possam tocar e cantar para a mamãe camela, ajudando-a a se sensibilizar e a se reconectar com seu bebê.

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Sabemos que nem sempre a maternidade é linda, que nem sempre conseguimos estar plena ou minimamente conectados emocionalmente às nossas mães ou aos nossos filhos. Às vezes, tem uma pedra no meio do caminho do fluxo do afeto – o que Bert Hellinger chamou de amor interrompido.

Isto é: o afeto, que deveria fluir naturalmente, sofre fissuras quando interpretamos determinadas atitudes de nossa mãe como ausência de amor por nós (por exemplo, uma internação por doença que nos obriga a ficar longe dela, uma adoção, morte ou outro evento traumático, como uma depressão pós-parto que a impede de se conectar conosco). Então, tendemos a julgar e a nos distanciar dela.

Uma música para o reencontro

A consequência de nos separarmos emocionalmente de nossa mãe é que, invariavelmente, separamo-nos também de metade de nós, de metade de nossa fonte de recursos, e estamos fadados a refazer essa mesma trajetória fragmentada em nossos futuros relacionamentos ou projetos. Vamos até certo ponto na entrega e, pouco tempo depois, algo se rompe novamente.

Como mudar esse destino? Reconectando-nos com nossa mãe.

“Camelos também choram” é um filme que nos ajuda a trafegar simbolicamente por esse caminho. Sem teorias, com poucas palavras e explicações, nessa história o coração é o único guia para atravessar a ponte que nos leva da dor ao amor. Afinal, também podemos encontrar caminhos de cura pela arte. No caso dessa obra, uma arte que não apenas imita, mas é a própria vida.

E você? Qual música te guiaria até sua mãe?

O documentário completo pode ser encontrado no YouTube.