Nesse relato, contarei como a Constelação Familiar me ajudou com minhas crises de ansiedade e a aceitar que isso faz parte de mim.

Eu sempre fui ansiosa, mas não sabia

Lembro que no início da adolescência, sentia um desespero só de imaginar em ir mal em alguma atividade da escola ou perder o horário do ônibus. Já no ensino médio, era conhecida por ser a chorona da sala; pensar nos prazos de entrega dos trabalhos, provas e vestibular constantemente me fazia sentir aquele desespero que, naquela época, transbordava em lágrimas (talvez o fato de ser canceriana tenha ajudado nesse ponto).

Na faculdade e no estágio, a pressão para ter um bom desempenho, por ser bolsista e precisar do dinheiro do primeiro emprego, muitas vezes me fazia perder o apetite, a ponto de não almoçar para dar tempo de cumprir com tudo que a vida adulta trazia à tona.

Até então achava normal sentir esse desespero, que chegava a sufocar. Todos que estudam e trabalham passam por isso, não é mesmo? 

Mas em julho de 2014, poucos dias depois de ter completado 20 anos, dirigia rumo à estação de trem, próxima de casa, para buscar meu irmão, quando sofri um sequestro relâmpago. Depois desse dia, o que era “apenas” um desespero, se tornou uma crise de pânico.

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Procura por ajuda profissional

Tinha medo de voltar dirigir, não sentia mais vontade de sair e curtir a noite com meus amigos, não conseguia prestar atenção na última aula da faculdade, que terminava tarde. Não queria fazer mais nada além de cumprir as obrigações do trabalho e dos estudos. Não via mais sentido em viver.

Após mais de um ano acreditando que tudo passaria num piscar de olhos, e depois de ter uma crise tão forte na qual achei que ia morrer sem ar, finalmente busquei ajuda profissional e comecei a fazer tratamento com aromaterapia.

A terapeuta, com seus óleos aromáticos milagrosos, me ajudou a identificar que o desespero que senti toda a minha vida tinha um nome: ansiedade, e que, com o sequestro, as crises que já tinha se agravaram para as crises de pânico.

O pânico, com a terapia, passou. Voltei a dirigir e a sair à noite, mas a ansiedade teimava em não me deixar. Eu continuava a me sentir desesperada, nervosa e com medo só de imaginar algo dando errado.

Minha Constelação Familiar

Em novembro de 2019, após recomendação de um amigo, e passar por outra fase difícil, aceitei fazer uma Constelação Familiar, que eu já conhecia, mas não tinha coragem de realizar, por medo de não conseguir lidar com o que poderia surgir. 

Meu tema, claro, foi a ansiedade. Queria entender por que sempre me senti assim e seguia com as crises, mesmo depois da terapia e trabalhando meu autoconhecimento. Queria não sentir mais aquela dor.

Fiz uma constelação individual e, logo no início do trabalho, não queria olhar para o boneco que representava minha ansiedade. O constelador, então, perguntou se alguém mais da minha família também se sentia assim.

Logo veio à mente a minha mãe. Somos muito ligadas e vinha percebendo que algumas atitudes dela poderiam se caracterizar como comportamentos de uma pessoa ansiosa, mas minha mãe é uma mulher forte e não transparecia ser afetada por isso.

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As mulheres da família

Com minha mãe presente no campo, o constelador sentiu uma tristeza muito grande, que me surpreendeu, pois nossa relação sempre foi repleta de amor. Ele questionou se houve alguma situação na qual a vi triste na infância. Eu me lembrei que sim. 

Quando eu tinha sete anos, minha avó morreu, aos 58 anos, enquanto dormia, decorrente de um infarto. Seu falecimento repentino e inesperado foi um choque para toda a família. Me recordo de ver minha mãe chorar por dias, lamentando nunca ter conseguido estabelecer uma boa relação com ela. 

Dizem que minha avó era uma pessoa difícil e não foi uma mãe muito amorosa. Para compensar isso, minha mãe fez o contrário, e foi extremamente carinhosa comigo e com meu irmão.

Ao vê-la sofrer tanto com a perda da minha vó, aliada a outras questões da família, passei a me sentir no dever de cuidar dela. Buscava sempre sua aprovação e ficar ao seu lado. Mesmo depois de adulta, muitas vezes deixei de fazer coisas minhas para “cuidar” dela. 

Identificamos que, tanto na relação entre minha mãe e minha avó, e na minha relação com minha mãe, houve o desequilíbrio da ordem da hierarquia. Eu ainda carregava algo das mulheres da família, que não me pertencia.

Nos movimentos do campo, durante a constelação, entreguei para minhas ancestrais o que era delas, mas, até então, eu carregava comigo. Consegui olhar para a minha ansiedade e, depois, finalmente vislumbrar um futuro, sem o desespero me acompanhando.

Sem crises de ansiedade

Fiz a constelação em novembro de 2019; desde então, ataques leves ainda ocorrem, mas não tive mais crise.

Uma das partes que mais me marcou na sessão foi quando o constelador pediu para eu dizer para o boneco que representava minha ansiedade: “graças a você eu cheguei aqui”.

Não conseguia aceitar como algo, que me fez sofrer tanto, foi necessário para estar onde estou; afinal, diversas situações da minha vida poderiam ter sido mais leves e mais tranquilas.

O facilitador, então, disse: “você precisa aceitar que a ansiedade também faz parte de você, uma parte disso tudo é sua e só você pode lidar com ela”. Depois de chorar mais um pouco (já falei que sou canceriana, né?), consegui sentir sua fala e aceitar que, sim, a ansiedade faz parte de mim e ela fez parte para estar onde estou.

Guardo comigo a leveza que senti após a Constelação Familiar. Como diz Bert Hellinger, “tudo é amor, a questão é a ordem por onde esse amor flui”. Sinto que parte dessa leveza é o amor de minhas ancestrais, que agora está em ordem e segue fluindo dentro de mim e me dando força para seguir em frente.

 

Por Heloisa Oliva.