Sagrado. Força. Sororidade… O que é o feminino? Como você o definiria?
Com as revoluções comportamentais das últimas décadas, muitas mulheres têm buscado responder a essa pergunta. Mais do que isso: elas têm tentado encontrar um caminho que as possibilite, tanto quanto possível, ser quem são. Mas o que isso significa?
Quando lemos ou ouvimos a palavra “feminino”, nossos recortes culturais e políticos nos levam a muitas imagens. Com isso, esses recortes se refletem segmentados em nosso campo de visão. E o feminino está além de qualquer projeção, no ímpeto do que somos: é elementar.
Para seguirmos adiante, proponho aqui um novo olhar para esse feminino, que chamarei de… profundo. Profundo feminino. Podemos seguir juntas?
Por profundo me refiro a algo que não tem uma forma específica e que vai além da ideia de ir para dentro, de cavar, de mergulhar. Logo, ele simplesmente se entrega, inclui e soma.
Aceitação do mistério
Para além de nossas ideias de gênero, de sexualidade ou daquilo que gostamos e não gostamos, o profundo feminino é aquilo que aceita. Mas aceita o quê? Aceita a vida. Aceita tudo, independentemente de quem seja ou de como foi: tudo faz parte. Aceita para além do julgamento: bonito e feio, certo e errado. E faz isso em um estado de profunda calma.
A aceitação cresce quando nos damos conta de que a vida também apresenta suas múltiplas possibilidades por meio dos sonhos, da criatividade, da cor, no dançar. É um caminho que exige coragem, você deve ter percebido. Afinal, percorrê-lo nos convida a olhar para dentro, a mergulhar em nossos mistérios. Quais universos nos esperam dentro de nós mesmos?
Ah… você está disposta a fazer essa viagem? Só ir. Sem se preocupar com a lógica. Sem buscar ideais. Sem separar, criar conflitos ou guerras.
Estamos falando de resignação? Não. Logo você vai entender.
O profundo
Convido você agora a ter um vislumbre do que estou falando. Mas espere. Traga um pouco de ar aos seus pulmões e acenda o calor de suas memórias… Agora, sim.
Vá à sua infância. Busque um momento em que você rodeava a mesa da casa de sua família de origem. Veja o prato de comida, ouça as vozes dos mais velhos, os risos, as histórias contadas após a refeição e que corriam vivas pelo âmago da casa. Veja a união que aquece a panela e que cobre o leito na noite fria; a bebida quente que embala o sono, o sonho e a esperança.
O fogo
E aí está ele. O fogo da reunião aquieta, traz o calor da linhagem familiar e de todas as pessoas que vieram antes, a vitalidade que atravessou a tantos e chegou até nós pelo elementar da vida.
Fogo representa poder e segurança, está no nosso instinto. O fogo proporciona concentração e tem a função de trazer a luz. Mesmo não tendo uma forma específica, ele inclui, ele soma: quando tudo começa a borbulhar, a se separar, a dar nó, o fogo transmuta, acalma e retoma ao básico, ao centro, leva ao profundo.
O fogo convida à reunião, afinal os contos eram formas de aquietar, de trazer esse calor, com leveza, para fazer parte da história. É impossível ficar nesse acalento, nesse aconchego, e não olhar para dentro: para o essencial.
O feminino sem forma
O profundo feminino está além da forma. Estamos, como humanidade, clamando por um movimento de inclusão, de sair da dualidade – quem está certo? Quem está errado? Quem é mais, quem é menos? Tudo que separa nos afasta do essencial.
Podemos tomar o profundo feminino, mas é mais fácil brigar, escravizar. A dualidade está no sistema, é global, está colada em nosso DNA. Por outro lado, estar próximo à natureza, contemplar, contar histórias também fazem parte do que somos.
+ Luz e Sombra de Nossa Alma | Conta: A Bela e a Fera
Escolher o sucesso ou o que acredito?
Muitas vezes, nos perguntamos: devo buscar o sucesso ou resgatar o que realmente acredito? A boa notícia é que um não descarta o outro. O que você leva, desde seu ambiente de trabalho até o mais profundo de seu íntimo, mesmo que por razões estéticas e materiais, não descarta o caminho de resgate do essencial.
Então, podemos começar nos perguntando:
- Qual é o meu essencial?
- Onde está o essencial na vida?
- Como nutro, alimento e acolho meu ser?
O mundo externo é tão importante – e igual – quanto nosso mundo interno. Não há separação. A união desses mundos nos dá a coragem para irmos à profundeza que traz a luz da inclusão.
Profundo feminino: um chamado importantíssimo
A vida pulsa, vibra. Os ares cantam e você chega até aqui, a este momento da vida, a este artigo. Algo que te move, te faz respirar um pouco mais profundo, relaxar sua mandíbula, ouvir seu coração. O profundo está em você.
E criamos esses movimentos de entrega, de inclusão, também pela meditação, quando estamos na natureza, pé no chão, na quietude, no fogo, no contar histórias, na contemplação – a natureza do ser, por si mesma, é profunda.
A entrega está quando aceitamos tudo que permeia nossa experiência humana.
+ Meditação Guiada: Profundo Feminino
Conclusão
O feminino é profundo, é aceitação e inclusão. Podemos começar a explorar nosso feminino devagar, aceitando, por exemplo, a meditação em nossas vidas, fazendo uma respiração profunda.
Podemos sorrir com os olhos para alguém e para nós mesmos no espelho.
Podemos ouvir as histórias, as vivências de nossos grupos e partilhar as nossas também. Assim, ajudamos a manter a chama acesa, o fogo que transmuta quando nos acolhemos e fazemos parte de algo maior, pois está além de tamanhos ou espaços, além da forma: está em nós todo o poder.
Em nosso curso de Formação em Constelação Familiar estudamos sobre esse tema, além de realizar exercícios práticos para acessar essa força. É nítida a transformação dos alunos ao tomar consciência desse lado que todos possuímos.
Qual a sua versão de feminino que virá do profundo? Seja qual for, será a suficiente, você é suficiente do jeito que é. Então convide esse feminino a se incluir!