“Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas amar bastante e tudo ficará bem. (…). Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor. ”
Bert Hellinger
Bert Hellinger, além de terapeuta, é um pensador e pesquisador magnífico.
No alto de seus 91 anos conseguiu atingir uma grande percepção e sabedoria a respeito da alma humana.
Descobriu ao longo de 30 anos de trabalho, de maneira determinada, séria e devotada, uma série de leis ocultas que atuam sobre as pessoas, grupos, famílias e até nações.
As Leis Sistêmicas, chamadas por Bert Hellinger de Ordens do Amor, exercem papel fundamental no equilíbrio e manutenção do sistema familiar.
Essas leis vem sendo ignoradas por toda a história da humanidade, causando grandes distúrbios, conflitos e dores em uma escala individual e coletiva.
A primeira lei se refere à pertinência: Todos têm o igual direito de pertencer. Sobre ela já falei em um outro artigo. Ver aqui.
A segunda lei se refere ao equilíbrio entre dar e tomar. Ver artigo.
A terceira lei diz que há uma hierarquia de tempo: os mais antigos vêm primeiro e na sequencia os mais novos.
Falo sobre ela em um vídeo, no meu canal YouTube também. Ver aqui.
Ordem da Hierarquia
Desde a visão sistêmica das constelações familiares, o sistema familiar não cuida se vamos morrer cedo ou não.
O que importa é restabelecer a ordem que disse:
“Quem chega depois respeita quem chegou antes”.
Hierarquia pode significar aqui, respeitar o que já estava antes. Se quem chegou depois quiser ajudar e salvar, os anteriores recebem isso como desrespeito.
Principais consequências de desrespeitar a hierarquia:
- Não poder criar uma nova família.
- Estar amarrada na família de origem.
- Sentir culpa inconsciente que pode gerar doenças.
- Dificuldades no universo profissional.
- Depressão.
Hierarquia nos casais
Homem e mulher chegam juntos na construção da família, têm funções diferentes, mas não há diferença de hierarquia.
Dentro do casamento ambos devem respeitar-se mutuamente, porque chegaram ao sistema juntos.
Relacionamentos anteriores (ex-maridos, ex-esposas ou ex-relacionamentos significativos), possuem precedência, enquanto que os novos sistemas formados (novos casamentos) possuem prioridade.
O relacionamento anterior precisa ser respeitado para que o atual dê certo.
Ninguém pode ser feliz à custa da infelicidade ou desgraça de outro.
Pais & Filhos
Publiquei um vídeo, com um relato simbólico sobre este tema no YouTube, através de um conto denominado “Onde estão as moedas”.
Se os pais têm doenças que os impedem de ter cuidados consigo, com as finanças, com a saúde, o filho deve fazer isso como filho, não deve fazer isso se sentindo maior que eles e sim menor.
Não devem fazer por dó, nem para aliviar, mas sim olhar com respeito para a força que os pais têm para cuidar dos seus destinos, sem que os filhos se sintam grandes, vendo o quanto a pessoa é forte e tem dignidade para poder receber cuidados.
Não devem tratar do pai ou mãe como se fossem seus filhos, precisam manter o respeito, não se sentido responsável ou querendo salvar a vida dos pais.
Quando um filho cuida muito dos pais e se intromete na vida deles, o melhor é parar, agradecer e respeitar. Esta atitude traz de volta a dignidade dos pais, assim volta à ordem da hierarquia.
Escrevi sobre este tema no artigo titulado: “As Ordens do Amor no relacionamento entre pais e filhos”.
Muitas vezes, o filho tem orgulho de cuidar pois torna-se poderoso, o que gera o aparecimento da emaranhados no sistema familiar, com frases ou pensamentos do tipo: “Acho que eles não vão dar conta”.
Isto é uma atitude para não perder o espaço, o poder e é puro ego.
Sempre é muito ruim quando um filho se sente grande diante dos pais. Se o outro olhar seu sofrimento com respeito, você se sente digno.
O medo do envelhecimento é o medo de perder a dignidade.
Se o outro que te cuida olha para você com respeito, isto traz dignidade. Quando olhamos com dó estamos roubando a dignidade e nos colocando como maiores.
É preciso uma atitude adequada para receber ajuda – é preciso humildade.
Filhos & Pais
Outra situação, como exemplo, é quando os filhos percebem que há crise no casamento dos pais.
Os filhos percebem que eles brigam, e mobilizados pelo amor e pela vontade de ajudar, começam a tomar partido nas discussões.
Às vezes começam a dizer “Mãe você está certa; pai não faz isso”, ou vice-versa.
Eles se mobilizam pelo amor, por medo que se separem, pela necessidade de retribuir, fazem tudo para os pais não se separarem.
Ou por outro lado fala para eles “Vocês têm que se separar, assim não dá mais”. Resumindo, se intrometem!
Muitas vezes os pais dão lugar ou promovem essa intromissão.
Com isso, este filho está desrespeitando a hierarquia ao querer recompensar seu débito de ter recebido a vida e motivado pelo amor, para “ajudar” a seus pais.
Como não consegue resolver a situação chega à adolescência se sentindo impotente (a culpa não aliviou) e começa a brigar, o que aumenta a culpa e faz com que se afaste de eles.
Diz, por exemplo, que seus pais não sabem ser felizes e que são estúpidos, fracos e incapazes.
Faz todo tipo de julgamento dos pais. Isto é o que Bert Hellinger denomina de processo de parentização.
Há uma inversão da ordem, sentem os pais incapazes e ordenam.
Acreditam que “sabem o que é bom para os pais”, mas estão errados neste aspecto e isso aumenta a culpa.
O processo de parentização, em que o filho acha que deve tomar conta dos pais, pode causar problemas também com os irmãos.
É provável que esse filho queira também cuidar do irmão, e esse irmão vai reagir “Você não manda em mim, não é meu pai”.
O pai diz “Você tem que respeitar seu irmão mais velho”, mas o mais novo vê que ele não respeita os pais, então não respeita o irmão mais velho.
É um problema de hierarquia e todos perdem seu lugar.
Hierarquia nas Organizações
Quando chega um novo funcionário e ele desrespeita os que já existiam, os que chegaram antes não aceitam, mesmo que este novo funcionário seja altamente qualificado.
Se ele for contratado com um cargo muito elevado, só terá respeito se respeitar as pessoas que já estavam antes de ele chegar, ouvindo-as.
Se chegar e não ouvir ninguém, e quiser implantar coisas novas, vão boicotá-lo e não dará certo.
A atitude arrogante na profissão está ligada à vida pessoal e trata-se de uma rigidez – um sentimento secundário – que é uma defesa para encobrir um sentimento primário, muitas vezes de dor ou impotência.
Da mesma forma uma empresa que não olha com respeito para o seu fundador traz desestabilidades sérias para a mesma.
E os seus herdeiros e/ou sócios não conseguem ter a tranquilidade necessária para uma boa administração e conquista de objetivos e metas.
Para concluir, devemos sempre respeitar o nosso lugar de chegada no sistema, seja no sistema familiar, assim como no organizacional.
Isso nos trará mais força na vida e muito mais sucesso.
Para saber se você respeita a Lei da Hierarquia, responda as questões abaixo:
1- Olho com respeito para aqueles que vieram antes de mim na minha família, ou fico apenas no julgamento de suas atitudes negativas?
2- Costumo intervir nas discussões entre meus pais e tomar partido de um contra o outro?
3- Vejo meu pai ou minha mãe como mais fracos ou incapazes do que eu ao ponto de buscar resolver seus problemas mesmo quando não me pedem?
4- Mesmo quando me mostro, em algum aspecto, mais capaz do que meus irmão mais velhos acredito ser mais importante ou ter mais direitos do que eles?
5- Assumo para mim o papel de meus pais ao tentar ajudar algum irmão mais novo ou procuro ajudar apenas como irmão quando necessário?
6- Tento prevalecer, julgando-me mais importante do que os filhos do primeiro casamento do meu marido ou da minha esposa?
7- Olho com respeito para meus antecessores e reconheço sua contribuição à empresa, mesmo que seu trabalho tenha se tornado obsoleto?
8- Imponho mudanças ao ambiente organizacional, sem os devidos cuidados, sem escutar, reconhecer e valorizar aquilo que já havia de positivo, ainda que seja na intenção de ajudar as pessoas mais antigas?
https://institutokoziner.com/mario-koziner/
Gostaria de saber mais
Oi, Virgínia! Sobre o quê?
Preciso me corrigir nesta questão de “cuidar” dos meus pais. Acredito que muitas vezes me excedo, me intrometendo em algumas questões sem necessidade. Também preciso mudar algumas posturas e pensamentos sobre os meus enteados. Obrigada pelo conteúdo, irei refletir muito a respeito.
Tatiane, ficamos muito felizes se o texto possibilitou essas reflexões. Não há problema em cuidar dos pais (por exemplo, de pais doentes), desde que façamos isso como filhos, como “pequenos”. E que interessante essa percepção para seus enteados. Muito sucesso em sua jornada!
Importante
Obrigada!
Olá.. quando estou em meu papel de filha, posso sentir orgulho de uma atitude de meus pais?