É possível trabalhar as Ordens do Amor com as Crianças?
A criança é como uma esponja. Ela absorve emoções que, na maioria das vezes, os adultos acreditam que ela não percebe ou não sente. Entretanto essa percepção – e interpretação que a criança faz dela – são tão profundas que podem atravessar toda a sua vida adulta, influenciando como ela se vê e se coloca no mundo.
Bruno Bettelheim (1903-1990), um dos mais influentes psicanalistas de sua época, defendia que os contos de fadas podem ajudar a criança a ter ideias, a criar recursos, para colocar a sua casa interior em ordem e dar conta daquilo que a vida exige dela.
Assim, conflitos, medo do abandono, angústias, tristezas etc. vividos nas histórias possibilitam que os pequenos reconheçam, nomeiem e encontrem caminhos para suas próprias emoções e conflitos.
Será que as boas histórias também poderiam ser um caminho para auxiliar a criança a colocar em ordem as dinâmicas ocultas do sistema familiar? Acreditamos que sim.
Neste, e nos próximos artigos, vamos propor leituras que, podem ajudá-las a aceitar, em sua casa interior, a si mesma como é, e a todos que pertencem ao seu sistema, como são; a ocupar seu lugar e a aprender a estabelecer relações mais saudáveis de troca.
O Pertencimento em “Flicts”
Nossa primeira sugestão de leitura é o livro “Flicts”. Escrito pelo cartunista Ziraldo e publicado em 1969, ele conta a história de uma cor muito triste e solitária. Flicts não era “visto” nem aceito pelas outras cores, ou porque ele não tinha a força do vermelho, nem o amarelo do sol. Até o arco-íris, com todas as suas possibilidades, recusou-se a dar um lugar para ele.
Assim, o personagem segue por muitas páginas em sua jornada para saber quem é e qual o seu lugar no mundo, até se encontrar. Plural em suas possibilidades de interpretação, podemos lê-lo também pelo filtro da terapia sistêmica, segundo a qual os excluídos de um sistema familiar precisam ter o seu lugar, evitando, assim, que membros de futuras gerações não repitam sua saga.
Antes de ler o livro para a criança, porém, recomendamos que você o leia primeiro, observando seus sentimentos e emoções. Você se aceita como é? Há excluídos em seu sistema? Quem você precisa incluir em seu coração? A aceitação e a inclusão começam com os grandes.