Nós adoramos observar os conceitos sistêmicos que se revelam na trama dos filmes! E você? Às vezes, os mais despretensiosos podem esconder um tesouro. Esse é o caso da saga “Hotel Transilvânia”, especialmente dos três primeiros (o terceiro fica para a próxima indicação).

Eles são muito engraçados e simples, mas trazem uma metáfora poderosa, tanto para o relacionamento afetivo (as chances de dar certo são proporcionais à abertura que temos para aceitar aquilo que o outro traz de diferente de mim) quanto para os filhos desse relacionamento (as chances de sermos mais felizes aumentam à proporção que aceitamos nosso pai e nossa mãe como eles são).

A família do outro

No filme, as diferenças entre as famílias são levadas à potência máxima. Mavis é vampira; Jonathan, humano. Os polos opostos permeiam tudo, do sono à alimentação. Mas eles estão apaixonados, e nós conhecemos bem esse estado no qual tudo parece possível, não é mesmo?

Então Mavis engravida, e um dilema se instaura: a criança será humana ou vampira? Terá hábitos diurnos ou noturnos? Vai virar morcego, para orgulho do avô vampiro, terá presas afiadas, ou será uma decepção humana?

Ao contrário de seu pai, Mavis acha que o filho deveria ser criado como humano, talvez ele se adapte melhor e seja mais feliz com os ditos “normais”.

A solução, nós já intuímos, é o caminho do meio. Aceitar os 50% que a criança herdou dos vampiros e os 50% que herdou dos humanos. Fácil? Claro que não. A família do outro parece sempre a mais problemática, a mais estranha e a mais “monstruosa”, verdade?

Porque o outro vem de uma história diferente da nossa, às vezes de outra cultura, tem hábitos estranhos aos nossos. E como é que vamos abrir mão, assim, do que aprendemos com nosso clã familiar sobre como as coisas devem ser? Não excluindo nem um nem outro. Nesse caso, 1 + 1 é igual a 3.

No filme, o caminho de aprendizado que as duas famílias trilham para chegar à solução garante boas risadas. Sistemicamente, podemos ver nele uma grande sacada para que o amor dê certo, que Bert Hellinger chamou de “amor à segunda vista”, isto é, eu amo você (amor à primeira vista) e amo tudo aquilo que te trouxe até mim (amor à segunda vista), seus pais, avós, bisavós e toda a história deles, sem “mas”, sem “porém”, sem “no entanto”, sem nenhum julgamento.

Precisa ser um amor de levar flores e almoçar junto todo final de semana na casa dos sogros? Não! Mas precisa ser um amor de aceitação e de respeito. Um amor que sabe: “graças a tudo como foi, a tudo que acontece em sua família de origem, você, meu amor, é como é.”

Não vale se apaixonar por uma vampira que toma sangue no café da manhã e, depois, pedir que ela substitua o sangue por beterraba. É uma metáfora esdrúxula, concordo, mas corremos o risco de fazer isso o tempo todo, enquanto não expandirmos nosso olhar e nosso coração.

É preciso rasgar o coração para caber mais mundo, como diria a filósofa Viviane Mosé, expandindo horizontes. E você? Escolhe a expansão ou a estreiteza?