Baseado no livro homônimo de Elizabeth Gilbert, o filme “Comer, rezar e amar”, agora disponível na Netflix, reflete um conceito importante das constelações familiares: “somente existe futuro quando o passado pode ser esquecido”, diz Bert Hellinger. Mas o que o pai das constelações familiares chama de esquecimento não é, exatamente, fazer de conta que o passado não existiu. É preciso nos reconciliarmos com o que vivemos e pô-lo em ordem.

Esse é o caso da jornalista Liz Gilbert (Julia Roberts) que, desde os quinze anos, está iniciando ou terminando uma relação afetiva. Depois do fim do casamento e de um namoro conturbado, entretanto, ela percebe que há algo errado. Então, em vez de buscar outro relacionamento, Liz decide ir em busca de si mesma; primeiro, na Itália; depois, na Índia e, por último, na Indonésia.

Apesar da alegria que permeia a primeira parte da viagem, Liz vive a dor do desapego não só dos amores que viveu, mas também dos roteiros de vida que ela seguia sem questionar e com os quais, se quisesse realmente viver a própria vida, teria de romper.

Quando nos resolvemos com o passado, podemos nos abrir para o novo.

Quais roteiros são esses? Os escritos por nossa família durante gerações e que seguimos sem questionar. Liz pergunta angustiada à mãe: “quando foi que você aceitou a sua vida?”. A mãe responde: “pobrezinha, sempre buscando”.

Liz se dá conta de que há uma sutil – mas enorme – diferença entre resignação e aceitação. A primeira nos paralisa; a segunda nos leva adiante. Ela está disposta a seguir e faz o necessário para isso.

Aceitação é um tema caro à constelação, pois é só por meio dela que uma transformação é possível. Depois de aceitar, vem o próximo passo: ter coragem de seguir com a “consciência pesada”, como Hellinger denomina o sentimento que nos sobrevêm quando vamos além de nossos antepassados.

Boa consciência pesada

Não é fácil ser mais feliz, mais bem sucedido que nossos pais, por exemplo. Para pertencermos – e ficarmos de consciência leve – gostaríamos de permanecer exatamente como todos de nossa família. Então, estamos diante de um dilema, que só cabe a nós decidir. Rescrevemos a mesma história ou escrevemos um novo capítulo no livro de nosso sistema familiar?

A cena abaixo mostra exatamente o momento em que Liz se despede respeitosamente de seu passado para trilhar uma jornada nova em sua vida afetiva. Veja que ela não está comemorando, soltando fogos. Dói. A consciência pesa. Mas é preciso coragem.