A cinebiografia “Elvis”, que estreou em 14 de julho nos cinemas do Brasil, ressuscitou o fervor em torno do “rei do rock”.
Encantou, levantou polêmicas sobre apropriação cultural e, para os conhecedores da constelação familiar, inspirou algumas reflexões sobre possíveis consequências de certas posturas que adotamos e que estão na contramão das Ordens do Amor, observadas por Bert Hellinger. (O grifo em “possíveis” é para ressaltar que não há regras nem receita de bolo nessa abordagem)
Em nosso Instagram, falamos sobre o irmão gêmeo natimorto de Elvis, Jessie, e seu possível impacto no cantor. Aqui, vamos focar em outra figura importante: o pai, aquele que nos leva para o mundo, segundo a abordagem sistêmica.
Salvar o pai – inversão de hierarquia
Logo no início do filme, vemos Elvis criança, muito pobre, com um adereço de raio colado ao peito. Ele quer ser um super-herói para salvar o pai, que está preso por estelionato, e ajudar sua família a ter uma vida melhor.
Mas podemos “salvar” nossos pais do destino deles? Não podemos. Eles vieram antes de nós. Quando temos esse intuito, saímos do nosso lugar para ocupar o lugar do “grande”, de pai/mãe dos nossos pais. Há, ainda que inconscientemente, uma arrogância nessa postura: “posso mais do que vocês”, “eu sou melhor”, “tenho a solução para os seus problemas.”
Como seguimos adiante fora do nosso lugar? Até onde conseguimos ir? Elvis teve muito sucesso, mas menos do que gostaria e poderia.
Além do vício e da morte precoce, podemos pensar em seu controverso empresário Coronel Parker (Tom Hanks), retratado no filme como o ‘responsável’ por Elvis se tornar conhecido e também pela derrocada na carreira e na saúde do cantor, como o sintoma de um emaranhamento que precisava ser visto na família de origem.
Amor cego
Bert Hellinger chamou de amor cego o movimento inconsciente da criança que tenta sofrer no lugar dos pais, imaginando que pode libertá-los de suas dores ou dividi-la com eles. O filho faz isso por amor, por lealdade, mas não vê o amor dos pais por ele. Se visse, não repetiria seus sofrimentos.
Não é interessante que Elvis tenha “atraído” um empresário que, como seu pai (ao menos por um tempo), também enganava as pessoas para se dar bem?
No filme, após a morte da mãe de Elvis, os papéis de seu pai e do Coronel Parker se misturam, mas o pai também é como um fantoche nas mãos do Coronel. Falta-lhe força.
De onde vem nossa força? De nossos pais.
Mortes precoces
Muitas vezes, como diz o personagem Zaman na série turca “Uma nova mulher”, é preciso tratar as raízes da árvore para curar os galhos.
Infelizmente, na história da família de Elvis (um irmão gêmeo natimorto, a morte precoce da mãe de Elvis, aos 46 anos; a morte do cantor, aos 42; de seu pai, aos 63, e do neto de Elvis, Benjamin Keough, que cometeu suicídio, aos 27) algo muito importante parece pedir para ser curado.
Veja abaixo uma constelação familiar na prática, que trata de lealdades familiares entre pais e filhos:
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