Causas da infelicidade afetiva se encontram nos primeiros anos de vida.

Falar sobre relacionamentos e os desdobramentos que eles geram em nossas vidas é algo bastante complexo.

A temática é ampla e possui diversas nuances. Mesmo assim, buscarei apresentar algumas ideias centrais que podem nos ajudar a pensar melhor e ter mais clareza sobre nossos relacionamentos.

É muito importante ter em mente que a base de nossos relacionamentos amorosos se constitui, principalmente, a partir do que chamamos matriz dos relacionamentos, isto é, a primeira relação afetiva de nossa existência: o vínculo com nossas mães (ou com as pessoas que a substituíram logo após o nascimento).

 

O condicionamento das relações amorosas

É a partir do nosso relacionamento com aquelas que nos trouxeram ao mundo e, em nossos primeiros momentos, cuidaram de nós e nos acolheram, que o reflexo sobre as nossas uniões amorosas futuras irá se basear.

Certamente, o pai também influencia bastante nessas relações, porém, por meio das experiências que podemos observar no trabalho psicológico e de constelações familiares, fica claro como o papel da mãe é fundamental nessa área da vida.

Nós podemos levar essa matriz do relacionamento (forma aprendida de se  de se vincular) com nossas progenitoras, para o resto da vida.

Com essa bagagem, atravessaremos nossas relações futuras (namoros, noivados, casamento). Dependendo de como essa matriz foi gerada, tendemos a ser bem ou mal sucedidos em nossos relacionamentos.

Se nos encontramos com sérias dificuldades para iniciar ou sustentar um vínculo, temos que parar para olhar e cuidar daquilo que passou, mas que ainda se faz presente consciente ou inconscientemente em nossas vidas.

Muitas vezes, nesse “parar para olhar” necessitamos da ajuda de um profissional especializado.

 

Autoestima e violência sexual

Vemos, por exemplo, a questão da autoestima extremamente entrelaçada com as tramas e significados que ocorreram em nosso relacionamento com a base materna.

Além disso, a repetição de relacionamentos abusivos também se encontra ligada a essa questão primordial. 

Trago  estes apontamentos, pois, na maior parte dos casos em que a pessoa sofre um tipo de violência, majoritariamente de cunho sexual, a dor e o trauma que surgem a partir dela estão muito ligados à ideia da ausência da mãe, “onde minha mãe estava que não me protegeu?”.

Claro que não podemos deixar de lado a constituição histórica e social atravessada pelo machismo e pelas relações de poder entre os sexos, observada amplamente na sociedade em que vivemos.

Tanto que, na imensa maioria das vezes, a questão da violência está ligada a um parente homem próximo, como o pai, o padrasto, o tio, e assim por diante.

 

Matriz de relacionamentos e visão sistêmica

Para reconfigurar a nossa matriz de relacionamentos, quando necessário, é fundamental ter a compreensão do cenário em que fomos criados, as dinâmicas relacionais que influenciaram nossas vidas e a nossa linhagem familiar transgeracional.

O medo do vínculo íntimo pode estar mascarado de diversas formas: evitando relacionamentos, perpetuando formas abusivas de se relacionar, ou tendo diversos vínculos simultaneamente.

Todos para não permanecer em nenhum.

A percepção do que nos acontece em relação às pessoas com as quais nos relacionamos, muitas vezes é difícil de ser enxergada.

Por isso, estar atento àquilo que está acontecendo é algo considerável para dar um primeiro passo em direção à resolução dos conflitos.

Segundo Bert Hellinger, todo relacionamento, para ser saudável, precisa respeitar a ordem do dar e receber.

Se eu dou demais ou de menos, o relacionamento tende a entrar em desequilíbrio – o que certamente levará a um colapso da relação, que não quer dizer necessariamente um término, pois muitas relações se mantêm assim para o resto da vida.

Para que a relação possa manter o equilíbrio, é fundamental uma observação constante e uma atenção plena sobre o que está acontecendo entre você e o seu parceiro, apenas assim será possível perceber algo que não esteja em ordem, abrindo a chance de querer se ajudar e ser ajudado.

“O perfeito não nos atrai. Descansa em si mesmo, bem longe da vida normal. Só se pode amar o imperfeito. Somente do imperfeito resulta um impulso de crescimento, não do perfeito.”
(Bert Hellinger)