Por Adriana Bernardino e Eliane Dell’Omo

 

Daniel Day-Lewis (“Meu Pé Esquerdo”, “A Insustentável Leveza do Ser”, “Lincoln” etc.) já era considerado um dos melhores atores do mundo – com Oscars e diversos outros prêmios – quando decidiu trocar a glamorosa Hollywood  por Florença, no interior da Itália, para se tornar sapateiro. Isso mesmo: um shoemaker.

Lewis só retornou aos holofotes anos depois para filmar o épico de Martin Scorsese, “Gangues de Nova York” (foto). Sobre aquela época, ele diz: “Foi um período da minha vida em que eu tinha o direito de ser qualquer intervenção desse tipo.”

Por que alguém deixaria um lugar de sucesso, fama e dinheiro por outro, anônimo, simples e modesto? Talvez para reeleger aquilo que é mais importante naquele momento da vida.

Às vezes, a percepção de que a nossa história precisa tomar outro rumo, mais próximo de nossa verdade, não surge de forma tão poética e calculada quanto a de Lewis. Eliane Dell’Omo, consteladora e psicóloga do Instituto Koziner, por exemplo, descobriu  o que lhe era mais importante, em dado momento, quando sua vida estava por um fio, na UTI.

“Tive uma experiência, sob o efeito da anestesia, que me mostrou o quanto cuidar de meus filhos pequenos era a coisa mais importante para mim. Mas não precisamos chegar a esse extremo para descobrir. Morte e renascimento nos acompanham todos os dias. É preciso que nos perguntemos: o que queremos deixar ir? O que reelejo de mais importante na minha vida hoje? Onde sou imprescindível? O que me é imprescindível?”, propõe Eliane.

 

Reeleger sentidos

A Páscoa – e todo o contexto de morte e renascimento que ela suscita – pode ser uma oportunidade para repensarmos quais intervenções nosso coração nos pede.

Se você pudesse parar neste momento e fazer uma escolha, o que você faria de diferente do que faz hoje? O papel que você encena no palco de sua vida é o que você gostaria de ter escrito? É o que você gostaria de continuar “encenando”?

Muitas vezes, vivemos tão desconectados de nós mesmos que precisamos de certo esforço para silenciar e nos ouvir. Não falo das vozes internas de julgamento nem daqueles ecos que reproduzem crenças de nosso sistema familiar, mas de uma voz autêntica: a de nossa profundidade.

O terapeuta Eric Berne, criador da Análise Transacional e grande inspirador de Bert Hellinger, descobriu que nós seguimos scripts, roteiros prontos de vida. Escritos por quem? Pelo contexto familiar, social e cultural ao qual pertencemos.

Qual a chance de uma criança que nasce em um lar palmeirense se tornar corintiana? E se ela fizer essa escolha – ou nem gostar de futebol – como essa decisão será vista? O que ela precisará para exercer o direito de escrever o próprio scrip? Ou de mudá-lo quando quiser?

Com um pouco mais de atenção – aquela que vem da alma – uma das formas de fazermos essa mudança é respeitar o caminho que nos trouxe até aqui, construído por nossos antepassados.

Com essa consideração verdadeira – que pressupõe não julgamento e aceitação – e uma boa dose de coragem, certamente poderemos ouvir as vozes desses mesmos antepassados, sussurrando em nossos ouvidos: “não é mais preciso repetir. Faça diferente. Seja você, seja feliz. Reinvente-se. Viva!”