Para muitas pessoas, ganhar dinheiro não significa, necessariamente, ter estabilidade financeira. Só neste mês, os consteladores do Instituto Koziner realizaram diversas constelações com a seguinte queixa: o dinheiro entra, mas não fica.
Olhando de forma sistêmica, o que poderia estar por trás desse padrão? Será apenas uma dificuldade de administração do dinheiro? E se for esse o caso, quais razões ocultas poderiam estar sustentando esse comportamento?
Após refletir sobre as crenças mais comuns relativas à riqueza (por exemplo, o pensamento cristão de “bem-aventurados os pobres”), Bert Hellinger se deteve sobre essa questão em seu livro “Histórias de sucesso na empresa e no trabalho” (ed. Atman). E afirma, entre outras coisas, que o dinheiro tem alma e “quer” ficar com quem o respeita.
Quem o dinheiro ama?
Para Hellinger, o dinheiro é fruto do equilíbrio de um bom desempenho e ama quem o coloca num circuito de serviço, trabalho e ganho, tudo ao mesmo tempo. Ele pergunta: “Se hoje alguém ganhar três milhões de euros na loteria, esse dinheiro gostaria de ficar com ele?”. A resposta de Hellinger é que o dinheiro dificilmente fica.
E ele tinha razão. Segundo um estudo realizado nos Estados Unidos, cerca de um terço dos ganhadores de loteria vão à falência apenas alguns anos depois de ganhar o prêmio milionário. Pior do que isso, a maioria deles se envolve em casos de polícia, suicídio e drogas.
Como é que podemos desenvolver um circuito saudável, como esse descrito por Hellinger? Quais são as dinâmicas que podem nos levar a um bom desempenho no trabalho a ponto de conseguirmos manter o nosso dinheiro?
As sementes do pai
Em seu trabalho sistêmico-fenomenológico, Hellinger observou – e eu concordo com ele – que, no princípio de tudo, o dinheiro está relacionado à figura materna. Porém, após conduzir várias constelações para o tema do dinheiro que se esvai, comecei a perceber que a capacidade de manter o dinheiro pode estar ligada também a dinâmicas com o pai.
O conto a seguir ajuda a ilustrar essa ideia.
Certa vez, um rei, preocupado com sua sucessão, decidiu testar qual de seus três filhos seria o mais apto para substituí-lo. Então, teve a ideia de entregar um saco cheio de sementes para cada um deles, informando que partiria em uma longa jornada. Ao retornar, as sementes teriam que ser as mesmas, e ele avaliaria o destino que seus filhos deram ao presente.
Qual seria a escolha mais sensata? Ou seja, qual agradaria ao pai e, consequentemente, daria a um deles o trono?
O filho mais velho trancou as sementes em um cofre de ferro para preservá-las. O filho do meio vendeu as sementes dele, planejando comprar outras novinhas e iguais, pouco antes da volta de seu pai. Já o mais novo plantou as sementes e cuidou delas até que se transformassem em um jardim exuberante.
Após alguns anos, o rei retornou e pediu aos filhos que mostrassem o que fizeram com as sementes. O mais velho abriu seu cofre, mas as sementes estavam murchas. O do meio entregou um saco de sementes recém-compradas, mas não eram às mesmas. O caçula levou seu pai a um jardim florido, cheio de plantas, flores, frutos e a um saco de sementes, produto desses frutos, dizendo: “Aí estão as sementes que você me deu.”
Com um sorriso satisfeito, o rei proclamou o filho mais novo como seu herdeiro.
Movimento criativo do dinheiro
Esse conto permite muitas analogias. Levando-se em conta que a função primordial paterna é “proliferar suas sementes”, associo o herdeiro do trono à capacidade de tomar o pai, ou seja, de aceitar o pai e o destino dele tal como são.
Podemos considerar ainda que o filho mais velho, ao optar por confinar as sementes do pai em um cofre, evoca a figura do indivíduo que permanece preso aos ciclos e padrões herdados de sua linhagem, reproduzindo as mesmas dinâmicas familiares. Algumas podem ser saudáveis, mas outras podem adoecer e/ou até provocar a morte.
Já o segundo filho, ao vender as sementes do pai, manifesta a dinâmica daqueles que, numa tentativa de ruptura com suas raízes, acreditam na possibilidade de uma renovação total, de se desvencilhar completamente de sua herança paterna. São os filhos que não tomaram seu pai. Estão revoltados com ele.
Tudo indica que, na postura do caçula, esteja o caminho de solução. Ele representa quem consegue honrar e reverenciar o pai e o que lhe é legado.
Não estou aludindo apenas ao fato de as sementes permanecerem; mas, principalmente, ao seu florescimento, ou seja, manter a linhagem ao mesmo tempo em que a transcende.
O “reino” pertence àquele que é capaz de, a partir de sementes ancestrais, semear seu próprio jardim. Dessa forma, perpetua-se o ciclo da vida e faz com ela algo “um pouco melhor”.
E você? Honra e multiplica as sementes que já recebeu? Como? Aprofunde ainda mais essa ideia, vendo o vídeo abaixo.