Uma criança raramente ousa ser mais feliz do que seus pais. Não estamos falando apenas de conquistas materiais, mas também de encontros mais plenos – tanto nas relações afetivas quanto em sua missão de vida. Segundo o olhar das constelações sistêmicas, ela faz isso por dois motivos: para pertencer ao seu sistema e por amor, muito amor à família. 

Constelações sistêmicas – Revelações trazidas pelas crianças

Em sua inocência e emoções ainda não racionalizadas, as crianças revelam – a seu modo – o que os pais, ou um sistema inteiro, não pode ou não quer ver. Por exemplo:

Por quem vela uma criança que não consegue dormir? Qual de nossas dores ela chora dia e noite? Qual excluído de nossa família ela coloca em seu coração, manifestando um transtorno de comportamento? Quais sentimentos não ditos entre seus pais ela grita para os amiguinhos ou transforma em agressão? 

Como esponjas, as crianças absorvem o meio em que vivem; como espelhos, refletem o que, muitas vezes, gostaríamos de nunca mais nos lembrar. Então, sentimos incômodo, raiva e acreditamos que há algo errado com elas (não conosco).

Olhando com mais cuidado, entretanto, ou como escreveu Bert Hellinger “Olhando para a alma das crianças” (ed. Atman), podemos nos surpreender com o que elas são capazes de fazer para dar um lugar aos membros de sua família e aos sofrimentos que os acompanham, às vezes por gerações.

O que é da criança também é meu

Por onde começa a liberação da criança e como ela ganha força? Talvez, por algumas perguntas, como: o que esse comportamento fala individualmente do pai e/ou mãe, ou do casal? O que essa atitude revela do sistema dela?

Hellinger dizia que, o que quer que as crianças façam, elas o fazem por amor. A pergunta é apenas uma: amor por quem? “Temos de descobrir para onde vai o seu amor e de quem talvez tenham raiva, justamente porque o amam.”

Para o pai das constelações familiares, quando uma criança se comporta de forma diferente da que desejávamos, ela provavelmente está honrando, em seu sistema, uma pessoa que foi excluída. Se olharmos, respeitarmos e integrarmos essa pessoa à família, então, a criança pode mudar.

Temos, entretanto, coragem de olhar para nossas dores e para as de nosso sistema? Estamos dispostos a fazer as mudanças que, talvez, essas descobertas provocarão? Hellinger alerta: “não é só a criança quem muda, a família também muda”. Nesse sentido, como dizia Melanie Klein, “quem come do fruto do conhecimento, é sempre expulso de algum paraíso.”

Nesse caso, o paraíso do qual somos expulsos é – se ousarmos ser mais felizes e termos mais saúde ou sucesso do que os que vieram antes – uma espécie de consciência pesada necessária e inevitável.

 criança e constelações sistêmicas

Ajudando as crianças a se desenvolverem

Para a psicóloga e diretora dos atendimentos individuais do Instituto Koziner, Eliane Dell’Omo, os pais ou responsáveis pela criança podem constelar uma questão que acreditam ser deles ou transgeracional. Mas, além da constelação, há outros recursos a serem explorados com a própria criança.

“Os contos de fadas, por meio dos desafios e superações vividos pelas personagens, possibilitam que as crianças descubram os próprios sentimentos e emoções. Com isso, elas podem se tornar mais confiantes em si mesmas e na vida”, diz Eliane. “Os finais felizes dos contos não são bobos, como algumas pessoas pensam. Eles ajudam a criança a acreditar que o caminho, apesar das dificuldades, vale a pena e pode, sim, proporcionar alegria e contentamento.”

Quem não tem contos de fadas à mão, pode contar histórias da própria vida, em que se saiu bem, venceu um obstáculo, superou um medo etc. Elas são muito inspiradoras para os pequenos. 

Redescoberta do encantamento

Outra sugestão da psicóloga é a descoberta (ou redescoberta, quando adultos em busca de sua criança interior) do encantamento da vida.

“Precisamos descobrir e trazer o encantamento nas mínimas coisas. Uma comida bem feita é vida, um vaso de flor sobre a mesa é vida, uma planta que se torna uma floresta encantada, onde tudo é possível, é vida. Não deveríamos querer que a criança crescesse rápido,  impondo a ela o mundo do adulto, nem retardar o crescimento, mas aceitar o desenvolvimento natural e prolongar o encantamento, pois é essa criança que seguirá, depois, internamente conosco pela vida toda, nos inspirando a sentir a vida com mais criatividade, alegria e leveza”, aposta Eliane.

+ Como se conectar com nossa criança interior

Por Eliane Dell’Omo e Adriana Bernardino.