“Há muitas causas para um suicídio, e nem sempre as causas mais
aparentes foram as mais eficazes. O que desencadeia a crise é quase
sempre incontrolável. Os jornais falam com frequência de “aflições
íntimas” ou de “doença incurável”. Essas explicações são válidas. Mas
teríamos que saber se no mesmo dia um amigo do desesperado não o
tratou de modo indiferente.”

(Albert Camus – O Mito de Sísifo)

O suicídio já foi um grande tabu, o segredo, a vergonha, a palavra temida e proibida. O acontecimento sobre o qual muitas famílias tentaram (e algumas ainda tentam) colocar a pedra do esquecimento. Mas há coisas que não podemos excluir ou ignorar sem que paguemos um preço alto por isso. 

Graças a iniciativas como as do Centro de Valorização da Vida (CVV) e das muitas campanhas de prevenção ao suicídio – como a do Setembro Amarelo –, o preconceito com o tema começa a dar lugar à escuta mais cuidadosa. Afinal, todos nós estamos sujeitos: eu, você e aqueles que amamos. E todos nós podemos atuar para ajudar a preveni-lo.

 

Por que alguém tira a própria vida?

A razão para uma pessoa cometer suicídio – ou como descreveria o escritor Albert Camus: “esse divórcio entre o homem e sua vida, o ator e seu cenário” – não pode ser vista de modo isolado, mas como uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, espirituais, sistêmicos (amor cego, por exemplo) etc.

“Quem põe fim à própria vida quer acabar com um sofrimento que não está conseguindo suportar”, diz o psiquiatra e professor de constelações sistêmicas Mario Koziner. “Elas estão pouco ou nada conectadas com sua alma, com sua essência e sentido que as move. Em alguns casos, podem estar movidas cegamente por um profundo amor a um membro familiar” (entenda mais aqui). Por isso, alguns gatilhos externos podem agravar essa condição. Os mais comuns são:

  • Perda do emprego ou falência financeira.
  • Bullying (principalmente entre crianças e adolescentes que não se sentem aceitos por determinado grupo).
  • Impossibilidade de viver, sem julgamentos, a própria sexualidade.
  • Fim ou dificuldade nos relacionamentos amorosos.
  • Separação ou morte de um ente querido.

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Sinais que não devemos ignorar

O mito de que “quem quer se matar não avisa” ainda é um obstáculo para quem precisa de ajuda; outro, é a dificuldade que as pessoas têm em perceber que alguém está prestes a cometer suicídio.

De acordo com o Ministério da Saúde, não existe um lista de sintomas-padrão, por isso a principal recomendação ainda é ficarmos atentos a alguns sinais de risco:

  • Isolamento: afastar-se de amigos ou familiares.
  • Queda no desempenho escolar ou profissional.
  • Alteração significativa de peso, para mais ou para menos.
  • Perda de interesse em atividades que antes eram importantes.
  • Tristeza persistente.
  • Alternâncias bruscas de humor – ora muito feliz, ora muito triste.
  • Descuido com a aparência e com a casa.
  • Expressões que remetam ao desejo de morrer (escritas, faladas ou desenhadas).

suicídio setembro amarelo

Segundo o CVV, alguns comentários também merecem atenção:

  •  “Vou deixar vocês em paz.”
  •  “Vou desaparecer.”
  • “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar.”
  •  “É inútil tentar fazer algo para mudar.”
  • “Eu só quero morrer.”

5 atitudes que podem ajudar

Algumas pessoas, por medo, evitam até pronunciar a palavra “suicídio”, como se ela, por si mesma, tivesse o poder de atrair esse destino. Sabemos, entretanto, que aquilo sobre o qual não podemos falar pode virar um sintoma. Às vezes, é justamente o que mais tememos.

Se você se identificou com o que descrevemos ou conhece alguém que está passando por isso, sugerimos algumas ações, que podem ser decisivas:

1 – Não ignore os comportamentos relatados acima ou muito diferentes do padrão.

2 – Fale com alguém de sua confiança – ou escute alguém de sua confiança. Na cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria afirmam: “falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão”. Assim, essas emoções vão se acalmando, e caminhos de solução podem surgir. 

3 – Valorize os sentimentos. Às vezes, sem perceber, minimizamos nossas emoções ou as emoções do outro. Comentário do tipo: “deixe de bobagem, sua vida é ótima”, “isso não é nada, vai passar”, “você não deveria ligar para o que os outros dizem” só aumentam o sentimento de inadequação e solidão. Em vez disso, poderíamos dizer: “sinto que isso realmente deixa você chateado”, “essa pessoa era muito importante para você, entendo sua tristeza”, “o que ele fez realmente afetou você”, “você está dizendo que é muito difícil lidar com essa perda”.

4 – Não ataque ninguém. Críticas, julgamentos, ofensas etc., ainda que para desconhecidos nas redes sociais, podem ter consequências sérias.  Nunca sabemos o nível de angústia pelo qual o outro está passando. Todos nós somos responsáveis uns pelos outros.

5 – Peça ajuda ou incentive a pessoa que está pensando em suicídio a pedir ajuda. Em uma emergência, o CVV oferece, todos os dias, 24 horas, uma escuta neutra e cuidadosa. Ligue para 188.

 

Escrito por Eliane Del’Omo. Colaboração de Adriana Bernardino.